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Territórios Humanos
Publicado em 07/12/2017 por Clodomiro José Bannwart Júnior é Coautor dos Livros "Responsabilidade Integral: Metodologia estratégica para o desenvolvimento pessoal, corporativo e educacional” e “A Pedagogia da Responsabilidade Integral e a BNCC”. Professor de Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina.

As ações humanas abrem possibilidades ilimitadas e produzem experiências surpreendentes na biografia pessoal de cada indivíduo. Na constância de atividades livremente escolhidas, o ser humano alcança estágios mais elevados de conhecimento, de interação e de moralidade. Pela prática transformamos a melhor matéria prima que possuímos, a saber, a nós mesmos. Confúcio afirmava que nascemos iguais e pela prática nos diferenciamos, tornando-nos territórios distintos uns dos outros.

O ser humano ainda continua sendo um território pouco conhecido. Na verdade, não o conhecemos integralmente. Existem partes desse território que o acesso não é facilitado. Há em nós montanhas rochosas que são avistadas de longe, tal como um aviador, atento observador, em voo panorâmico. Querer sobrevoar esse terreno inexplorado exige minimamente dispor de um mapa nas mãos. Nos dias atuais é mais apropriado falar em GPS. Nem o mapa nem o GPS é o território. Ambos são traçados possíveis que nos conduzem ao encontro de nós mesmos. São instrumentos a orientar nossas ações no processo de desbravar aquilo que somos com o intuito de (re) construir naquilo que gostaríamos de ser. Os mapas pedagógicos orientam-nos a alcançar a nós mesmos, ajudando-nos a desnudar nosso ser, fazendo-nos territórios conhecidos e abertos à outros territórios.

A Educação não deve se restringir à formação profissional; deve, antes, formar o ser humano na sua integralidade, permitindo a cada um, em particular, descobrir o melhor de si, os seus dons mais íntegros. Semelhante às linhas de um mapa, a educação forma as linhas do desenvolvimento do ser humano. Em nossa viagem existencial vislumbramos várias paisagens e, a cada novo cenário, a cada novo horizonte, temos uma percepção diferente da realidade que nos cerca. As paisagens são os estágios ou níveis do nosso desenvolvimento pessoal. A cada novo horizonte que se abre, temos um nível mais elevado de possibilidades que transcende e inclui as paisagens anteriores.

O filósofo norte-americano Ken Wilber afirma que ‘numa hierarquia de crescimento, os níveis mais elevados não oprimem os menos elevados, mas os abarcam! Eles literalmente os incluem, os abrangem. Cada nível de uma hierarquia de crescimento está disposto num arco superior, porque representa um aumento da capacidade de consideração pelos outros, da consciência, da cognição, da moral. Crescimento é um desenvolvimento que é inclusão” (WILBER, 2012, p.116). Desenvolvimento é envolvimento do eu para consigo e para com o outro. É o envolvimento pedagógico e integral para com todas as áreas que tocam a vida em suas múltiplas paisagens.

É nesse sentido que a pedagogia da Responsabilidade Integral se vale da psicologia do desenvolvimento, sobretudo Lawrence Kolberg, para delinear um mapa formativo do ser humano, pleno e integral. Apoiado nos níveis de desenvolvimento da consciência moral de Kohlberg é possível demonstrar que a criança, na infância, vivenciou paisagens destituídas de valores éticos ou convenções sociais, um período, por assim dizer, egocêntrico, alicerçado no “Eu”. Ao assimilar as regras e as normas da cultura e da sociedade a que pertencem, homens e mulheres abandonam o egocentrismo e passam para o nível etnocêntrico, no qual constroem a noção de justo e de correto a partir do horizonte dos valores, costumes e tradições partilhados comumente. As paisagens, agora, são alicerçadas com base no “nós”. A educação eficaz é aquele que ajuda o indivíduo a enxergar outros territórios além daquele em que a sua identidade foi formatada. Trata-se de alçar o nível pós-convencional, também chamado de mundicêntrico, em que o indivíduo passa a enxergar todas as pessoas, todos os territórios, “todos nós”, independente de raça, cor, sexo, credo e valores culturais.

Educação com responsabilidade integral é um processo pedagógico que visa a inclusão do Eu ao Nós e do Nós ao Todos Nós. E esse processo exige um processo permanente de reconstrução, tal como o GPS que nos reposiciona e nos redireciona a cada nova informação ou conhecimento registrado.

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