Lançado em 2017, o livro explora todos os aspectos da Responsabilidade Integral, passando por todas as áreas da matriz trabalhada pela RSP. Na leitura, é apresentada uma metodologia para a evolução integral do indivíduo na aplicação de suas capacidades, na sua realização pessoal e no relacionamento com a sociedade. Esta, é apta à elaboração do planejamento estratégico dos recursos humanos mais essenciais do EU – mente e emoção –, em consonância à leitura do contexto social, no qual o indivíduo interage e projeta a construção da socialização por meio de ações e comportamentos.
No enredo, a sociedade passou a entender que precisa cuidar de si e do seu entorno, que é da responsabilidade integral o comportamento responsável em todos os sentidos.
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Apresentação
A responsabilidade está implicada na capacidade conferida ao ser humano de responder às indagações que o despertam para a reflexão. O termo responsabilidade deriva do latim respondere, que significa responder. A responsabilidade, mais precisamente, é uma competência construída por meio do processo educacional, capaz de ofertar respostas a outrem ou a si próprio. É a capacidade de responder com habilidade aos desafios racionalmente impostos e àqueles que são originados pela dialética da vida. Os termos “responso + hábil + idade” formam a palavra responsabilidade, na qual está implicada a “resposta hábil”, a “capacidade de responder com habilidade madura”. Por isso, todo grande projeto começa com responsabilidade, com a resposta hábil que fornecemos aos nossos ideais.
A responsabilidade incorpora duas características peculiares ao ser humano: a capacidade de elaborar perguntas e a competência de produzir respostas. Nenhuma dessas duas dimensões se realiza fora de um autêntico processo educacional. A educação é fundamental para assegurar, no mínimo, duas operações indispensáveis a qualquer ser humano:
1) realizar um diagnóstico do contexto em que está inserido, sabendo identificar os obstáculos que a impedem de crescer autonomamente;
2) dispor de competência para promover um adequado prognóstico que a permita suplantar os empecilhos já diagnosticados, a saber, aqueles que a vida, a sociedade, o contexto ou a própria pessoa, inconscientemente, impõe a si.
A responsabilidade integral visa à apreensão reflexiva da relação indivíduo-sociedade, disponibilizando as condições para que o indivíduo possa refletir sobre sua construção biográfica de forma integrada ao contexto no qual ela projeta sua sociabilidade.
A responsabilidade integral configura-se em uma metodologia apta à elaboração do planejamento estratégico dos recursos humanos mais essenciais ao ser humano: sua capacidade racional e emocional, em consonância com a leitura do contexto social no qual este interage e projeta – por meio de ações, atitudes e comportamentos – a construção da sociabilidade.
A correlação entre indivíduo e sociedade e a compreensão coesa de ambos permitem projetar um conceito de responsabilidade integral, capaz de abarcar a integralidade e, ao mesmo tempo, a intersubjetividades das relações humanas.
A responsabilidade em si constitui um conceito amplo e integral, na medida que preenche vários domínios da vida e da existência humana. Quando respondemos por algo a nós confiado, assumimos responsabilidade. Quando ainda nos tornamos compromissados com alguém ou com algo, revelamos responsabilidade ao cuidado dispensado. Assumir o dever obrigacional que a lei impõe ou de compromissos firmados, é também responsabilidade. Igualmente somos responsáveis por aquilo que conquistamos, sobretudo a confiança emanada das relações interpessoais. A responsabilidade pode ainda ser vista como obrigação moral, como reconhecimento das consequências de uma ação deliberada, como virtude adquirida em decorrência da liberdade humana. Como bem dito por Victor Hugo “tudo quanto aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade”. E a característica de uma pessoa responsável encontra-se na conexão entre suas ações livres e palavras por ela proferida. Dessa conexão entre valores e discurso emana a credibilidade, a estima e a integridade que acompanha sua biografia pessoal. Fica manifesto tratar-se da veracidade expressa subjetivamente. Há, pois, a confissão – manifestação subjetiva de que o falante se compromete a comportar-se com sinceridade com relação àquilo que ele confessa. Nesse caso, há uma pretensão de veracidade da parte do falante (portador do discurso) que pode ser contestada quando este não age em conformidade ao conteúdo proposicional enunciado. Linguagem e ação congregam, nesse sentido, pressupostos normativos orientadores de uma interação social responsável.
Os autores
“A sociedade num todo passou a entender que precisa cuidar de si e do seu entorno, tendo surgido, daí, um novo conceito, que é o da responsabilidade integral, propósito de atos que exige dos indivíduos um comportamento responsável em todos os sentidos. Vivemos um processo evolutivo acelerado, e todos cobram dos seus semelhantes uma postura com práticas positivas, do respeito ao próximo e voltado para a construção de uma sociedade mais saudável, segura e fraterna.”
Empresário, empreendedor social e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP
O Livro “A Pedagogia da Responsabilidade Integral e a BNCC” busca servir de suporte e fundamentação à uma pedagogia da responsabilidade, apoiada nos direitos da aprendizagem informados pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC. É um livro que reflete a educação, do ponto de vista teórico e prático, à luz do conceito de responsabilidade, tendo por base de apoio documentos da UNESCO e a legislação nacional, de forma mais detida, a recém BNCC.
Introdução
As ações humanas abrem possibilidades ilimitadas e produzem experiências surpreendentes na biografia de cada pessoa. Na constância de atividades livremente escolhidas, o ser humano alcança estágios mais elevados de conhecimento, de interação e de moralidade. Pela prática educacional, transformamos a melhor matéria prima que possuímos, a saber, a nós mesmos. Confúcio afirmava que nascemos iguais e pela prática nos diferenciamos, tornando-nos territórios distintos uns dos outros. A beleza da geografia está na diversidade dos territórios, assim como a grandeza da educação está na sua capacidade de tocar a vida em suas múltiplas capacidades.
O ser humano ainda continua sendo um território pouco conhecido. Na verdade, não o conhecemos plenamente. Existem partes desse território que o acesso não é facilitado. Há em nós montanhas rochosas que são avistadas de longe, tal como um aviador, atento observador, em voo panorâmico. Querer sobrevoar esse terreno exige minimamente dispor de um mapa nas mãos. Nos dias atuais é mais apropriado falar em GPS. Nem o mapa nem o GPS é o território. Ambos são traçados possíveis que nos conduzem ao encontro de nós mesmos. São instrumentos a orientar nossas ações no processo de desbravar aquilo que somos, com o intuito de (re) construir o que gostaríamos de ser. Os mapas pedagógicos orientam-nos a alcançar a nós mesmos, ajudando-nos a desnudar nosso ser, fazendo-nos territórios conhecidos e abertos a outros territórios.
A Educação não se restringe à formação profissional; deve, antes, formar o ser humano na sua integralidade, permitindo a cada um, em particular, descobrir o melhor de si, os seus dons mais íntegros. Semelhante às linhas de um mapa, a educação forma as linhas do desenvolvimento do ser humano. Em nossa viagem existencial, vislumbramos várias paisagens e, a cada novo cenário, a cada novo horizonte, temos uma percepção diferente da realidade que nos cerca. As paisagens são os estágios ou níveis do nosso desenvolvimento pessoal. A cada novo horizonte que se abre, temos um nível mais elevado de possibilidades que transcende e inclui as paisagens anteriores.
O filósofo norte-americano Ken Wilber afirma que “numa hierarquia de crescimento, os níveis mais elevados não oprimem os menos elevados, mas os abarcam! Eles literalmente os incluem, os abrangem. Cada nível de uma hierarquia de crescimento está disposto num arco superior, porque representa um aumento da capacidade de consideração pelos outros, da consciência, da cognição, da moral. Crescimento é um desenvolvimento que é inclusão” (WILBER, 2012, p.116). Desenvolvimento é envolvimento do eu para consigo e para com o outro. É o envolvimento pedagógico e integral para com todas as áreas que tocam a vida em suas múltiplas paisagens.
É nesse sentido que a pedagogia da Responsabilidade Integral se vale da psicologia do desenvolvimento, sobretudo baseada em Jean Piaget e Lawrence Kolberg, para delinear um mapa formativo do ser humano, pleno e integral. Apoiado nos níveis de desenvolvimento da consciência moral de Kohlberg é possível demonstrar que a criança, na infância, vivenciou paisagens destituídas de valores éticos ou convenções sociais, um período, por assim dizer, egocêntrico, alicerçado no “Eu”. Ao assimilar as regras e as normas da cultura e da sociedade a que pertencem, homens e mulheres abandonam o egocentrismo e passam para o nível etnocêntrico, no qual constroem a noção de justo e de correto a partir do horizonte dos valores, costumes e tradições partilhados comumente. As paisagens, agora, são alicerçadas com base no “nós”. A educação eficaz é aquela que ajuda o sujeito a enxergar outros territórios além daquele em que a sua identidade foi formatada. Trata-se de alçar o nível pós-convencional, também chamado de mundicêntrico, em que o sujeito passa a enxergar todas as pessoas, todos os territórios, “todos nós”, independente de raça, cor, sexo, credo e valores culturais.
Educação com responsabilidade integral é um processo pedagógico que visa à inclusão do Eu ao Nós e do Nós ao Todos Nós. E esse processo exige uma ação permanente de reconstrução, tal como o GPS que nos reposiciona e nos redireciona a cada nova informação ou conhecimento assimilados.
A Base Nacional Comum Curricular – BNCC – constitui importante documento normativo, tal qual um GPS, a direcionar os propósitos da educação brasileira para “a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva” (BNCC, 2017, p. 7). É intenção da BNCC contribuir para superar a fragmentação de políticas educacionais no país e, ao mesmo tempo, colaborar na definição, progressiva e orgânica, das aprendizagens consideradas essenciais na formação dos alunos ao longo da Educação Básica.
A BNCC é um convite à reflexão acerca das condições de possibilidade da educação, enquanto conjunto de conceitos, procedimentos, valores e atitudes empregados no processo educativo, visando o desenvolvimento pleno do aluno. É nesse sentido que o documento entende a necessidade de garantir os “direitos de aprendizagens” como recurso indispensável no processo de educação formal a subsidiar a estruturação de currículos compatíveis ao nível de ensino e aprendizagem de alunos em contextos sociais e culturais distintos.
A RSP Integral tem o propósito, a partir da experiência de professores e educadores, de cooperar, no âmbito teórico e prático, no fortalecimento de ações que assegurem a formação continuada de professores, na busca de currículos inovadores e na criação de alternativas às demandas e aos problemas que se impõem à educação brasileira.
Neste livro, o leitor encontrará uma primeira versão da análise da BNCC à luz da pedagogia da Responsabilidade Integral que, por ora, tem o intento de fundamentar os direitos de aprendizagem em uma linha de desenvolvimento integral do ser humano. Esperamos que o presente livro possa contribuir para enriquecer o debate acerca da educação, tendo o leitor a certeza de que as críticas e as sugestões serão sempre bem vindas, pois as receberemos como oportunidade de contínua e colaborativa aprendizagem.
Clodomiro José Bannwart Júnior
Doutor em Filosofia pela UNICAMP,
Professor na Universidade Estadual de Londrina,
Coautor do Livro Responsabilidade Integral,
Membro da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina.